sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Convite

Amigos

Convido vocês a conhecerem meu novo blog: "Cantos de Desencontro". Lá, eu publico meus contos, que há alguns anos escrevo. Espero que gostem, e, se gostarem, divulguem!
http://www.cantosdedesencontro.blogspot.com/

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Psicologia e Cinema

"Minhas tardes com Margueritte" é um filme bem interessante. Este drama francês de 2010, dirigido por Jean Becker e estrelado por Gérard Depardieu tem inúmeras possibilidades de análise, inúmeros caminhos que podemos trilhar e todos justificam vê-lo. O que mais me atraiu foi a relação entre Germain (Depardieu) e Margueritte (Gisèlle Casadesus) como um atalho para que aquele pudesse ressignificar sua difícil relação com a mãe.
Germain foi fruto de um encontro furtivo entre sua mãe e um jovem, durante uma festa, uma espécie de quermesse. Durante toda a infância sofreu com os comentários e atitudes carregados de desamor vindos dessa mãe. Para piorar sua situação emocional, torna-se desafeto do professor na escola primária e aí... mais humilhações e desrespeito. Germain cresce como um típico homem bom e ingênuo, ainda encontrando "amigos" que riem de sua falta de cultura e educação. Mas tem uma namorada que o ama, o que, de certa forma, o ajuda a sentir-se melhor.
Sua mãe, agora idosa, continua a tratá-lo com o mesmo desamor, o mesmo desrespeito, e Germain vai morar em um trailler no quintal.
Uma tarde, por acaso, conhece Margueritte, uma senhora de mais de noventa anos, educada, culta, amante de Literatura, com quem passa a manter conversas todas as tardes, enquanto observa os pombos na praça. Durante essas conversas, Margueritte vai trazendo Germain para o universo dos livros e da Filosofia, sem se preocupar com seu jeito e eventuais comentários indelicados que ele possa fazer sem perceber.
Com a relação com Margueritte, Germain consegue se fortalecer o suficiente para rever a história com a mãe, inclusive podendo lamentar sua perda e descobrir que ela havia, afinal, lhe deixado uma herança material, o que, certamente, sem esse novo vínculo afetivo com uma figura materna positiva, não seria possível sequer compreender.



segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Robert A. Johnson

"Assim como o fogo, se dominadas, as virtudes do sexo oposto que temos dentro de nós transformam-se num maravilhoso servo; não dominadas, são um terrível senhor."



sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Aos amigos...

... e seguidores do Psicologia e Arte, Um Feliz Natal e um Ano Novo de muitas realizações!



quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Aconteceu numa sessão de arteterapia

Por Vanessa Coutinho

   Letícia é uma linda menina de 7 anos de idade. Estávamos em nossa primeira sessão e tudo ia bem até que ela perguntou: "Quanto tempo falta para terminar?". "Dez minutos." - respondi. Ela começou a ficar aflita, e finalmente, desabafou: "será que minha mãe vem me buscar?". Eu sabia que a mãe estava lá fora. Não tínhamos, eu e Letícia, desenvolvido ainda um laço suficientemente forte para que a responsável pudesse se ausentar. Então perguntei:
   - Por que ela não viria?
   - Às vezes eu acho que minha mãe me odeia. Só às vezes... Se ela não vier, você sabe me levar para casa?
   Sensibilizei-me profundamente diante daquele pedido de ajuda. Assegurei à menina que sua mãe estava lá fora e que não havia o risco de que não viesse buscá-la. Letícia, um pouco mais tranquila, mas não totalmente, falou das incontáveis vezes em que a mãe se atrasava para buscá-la na escola, no balé, na fono...
   Conversamos a respeito dessa angústia, desse fantasma do abandono. Apesar de ter sido avisada de que a mãe estava presente, a menina insistiu: "Se ela tiver ido embora você vai me levar para casa?".
   Percebi que ela precisava de algo além da informação concreta. Eu podia simplesmente abrir a porta e mostrar a ela que a mãe estava lá. Mas percebi que, paradoxalmente, naquele momento, isto seria pouco. Olhei em seu rosto e disse: "Letícia, você está aqui comigo. Não vou levar você para casa para te deixar sozinha. Vamos ficar juntas até você ir embora com sua mãe".
   Mesmo eu, adulta, terapeuta há mais tempo do que ela tinha de vida, senti uma ansiedade diante da fantasia do que faria se, ao abrir a porta, a mãe não estivesse lá, embora eu soubesse que isso não ia acontecer. Entendi um pouco do que a criança sentia. Dividi com ela aquele momento de desamparo. Assim, pude ampará-la.
   Ela me olhou e sorriu. Às vezes o espaço terapêutico nos oferece um canal direto ao que de mais íntimo há no outro. Eu havia conseguido usar este canal.

                                                           


Sobre um dia vendo o sol nascer...

   Eram mais ou menos quatro e meia da manhã quando Luísa me acordou: "Mãe, não consigo mais dormir". Olhei pela janela, o céu ainda bem escuro. "O que eu faço?" - ela perguntou. "Feche os olhos que o sono vem". Cinco minutos mais tarde: "Mãe, o sono não veio, o que eu faço?". Lembrei de algumas amigas, que, passando dos 35 anos, sem filhos, começam a se questionar se desejam ser mães. Começam a pensar no que significa assumir a criação de uma criança e, consequentemente, não só nos ganhos, mas também nas perdas que terão (esse é o seu lado racional). Ao mesmo tempo, dentro delas alguma coisa se agita, trazendo sonhos, fantasias e imagens ligadas à maternidade.Lembrei também que havia ido deitar na noite anterior satisfeita por poder acordar um pouco mais tarde do que de costume, em função do cancelamento do meu primeiro compromisso da manhã. E lá estava eu, de olhos bem abertos antes mesmo do dia raiar. Não sei o que ocasionou esta insônia inesperada. Nunca havia acontecido e, até agora, não voltou a acontecer. Mas ficamos conversando bastante, contando histórias, falando sobre os mais diversos assuntos, com o cuidado de não acordar Sofia, até que Luísa declarou: "Mãe, não vou mais dormir. Já está 'clarescendo'. Vou ver o sol nascer". 
   Cheia de sono, os olhos ardendo, fui para a janela ver o sol nascer. Depois, tomar um banho e, vida que segue... Com toda a certeza do mundo de que ser mãe, para mim, valeu a pena. E muito!



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Reflexões sobre a educação de nossos filhos

Por Vanessa Coutinho

   Pietro tem 15 anos. Lançou uma bomba na internet: sua colega de turma e o professor de Português estavam namorando. É óbvio que lançou esta bomba anonimamente.
   Sua escola, de orientação bastante tradicional, como já era de se esperar, iniciou uma busca investigativa pelo responsável por tal escândalo. Como não há segredo tão bem guardado, ainda mais aos 15 anos, Pietro é o suspeito número um, embora não haja provas. Quase diariamente ele é chamado à coordenação para esclarecimentos. É como um inquérito policial. Pesado demais para sua pouca idade. Pediu ajuda.
   Confessou aos pais o que havia feito. Estes trouxeram-no ao consultório de Psicologia.
   -E então, Pietro, o que está acontecendo com você?
   -Eu postei na internet que um professor estava saindo com uma aluna.
   -Por quê fez isso?
   -Porque não gosto dele.
   -E o que faz você pensar que ele sai com uma aluna?
   -Eu não penso isso de verdade.
   -Ah, não?
   -Não. Eu só inventei essa história para ele ser mandado embora.
   Bem... naturalmente esse papo foi longe. Mas o grande drama de Pietro não foi ter postado uma calúnia na internet, que poderia causar enormes danos emocionais e práticos ao professor e à menina. Seu grande drama era que, se fosse descoberto, poderia ser expulso do colégio.
   Quando conversamos a respeito de passar tudo a limpo, para enfim se libertar da tortura quase diária das visitas à coordenação, disse que já havia pensado nisso. Mas não o faria porque seria punido.
   Em momento algum Pietro se arrependeu de ter exposto indevidamente uma colega e o professor. Seus pais não sabiam como orientá-lo, não sabiam o que sugerir que ele fizesse.
   Difícil a situação de todos os envolvidos: Pietro, seus pais, a escola, o professor e a jovem. Não há dúvida de que ele, o rapaz, agiu de forma imprópria. Utilizou-se de uma maneira disfuncional para tentar se livrar de um problema, e agora depara-se com o resultado de sua ação. Isso se chama limite.
   Não busco culpados, este não é meu papel. Creio que seja possível que a família negocie com a escola uma punição diferente da tão temida expulsão, caso haja abertura para que ele assuma o que fez e possa, claramente, falar com o professor sobre seus desconfortos. Mas minha grande angústia é ouvir Pietro narrar seu ato sem se dar conta da gravidade do que fez. Sinto que se não estivesse na iminência de ser descoberto, estaria calmo, tranquilo e até "curtindo" a "graça" da história.
   Impossível não lembrar do jovem que, num "pega", atropelou Rafael Mascarenhas, e que rapidamente, com o apoio do pai, subornou policiais, mais preocupado com escapar ileso do que em prestar socorro à vítima(!). Ou dos que bateram em uma doméstica por pensar que era prostituta (!!). Ou os que queimaram o índio acreditando ser um morador de rua (!!!). O mundo, para alguns jovens (e outros nem tão jovens), parece dividido em nós e eles. Não há igualdade ou solidariedade. Algo nos separa. Pergunto-me por que estes pais não ensinaram a Pietro o significado da palavra calúnia, e pergunto-me também se, ao buscar uma psicóloga, vieram em busca de um trabalho que ajude o filho a compreender seus valores ou em busca de uma pessoa que o ajude a "safar-se" desta situação.
   Pietro, sem dúvida, me interessa: importo-me com ele, com seus sentimentos e sua crise atual. Interessa-me ainda mais a possibilidade de estar diante de uma família totalmente perdida, sem rumo, incapaz de por limites em seu filho, que, por sua vez, é incapaz de encarar frustrações. Isto sim é uma bomba. Alguém que não foi encorajado a encarar a frustração será sempre um perigo, para si mesmo e para os outros.

A pata do elefante

   Ontem, ao buscar algo para ver em algum perdido canal de televisão, acabei parando em uma série americana que tem como tema aventuras do FBI. Peguei a cena em que um dos chefes falava com uma policial, a respeito de como algumas pessoas carregam em si marcas dolorosas da infância, marcas de dominação. Ele dizia que os adestradores de elefantes costumavam amarrar a pata do animal desde muito novo com uma forte corrente. Assim, ao longo dos anos, o elefante acabava por desistir de lutar, e submetia sua enorme força ao domínio do treinador. Ao chegar a este ponto, bastava amarrá-lo com um barbante para levá-lo a fazer qualquer coisa.
   Quantas vezes este mesmo mecanismo acontece com os humanos, é claro que de uma forma simbólica. Perde-se a crença na própria força, e passa-se a obedecer ao comando de um fio de barbante...



sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Novembro

Novembro é um mês muito especial para mim. É o mês em que nasceram minhas duas filhas: Luísa no dia 15, e Sofia no dia 30.
Não posso deixar de registrar o quanto são especiais estes encontros em minha vida, em minha história, em minha alma!



domingo, 16 de outubro de 2011

A MADRASTA DA BRANCA DE NEVE

Por Vanessa Coutinho

   Todos os que simpatizam com as ideias de Jung, cedo aprendem a compreender a importância dos mitos e contos de fadas, histórias atemporais, passadas através das gerações e compostas por uma série de mitologemas, ou partes simbólicas que as constituem.
   Há uma história, amplamente conhecida, inclusive por ter sido filmada como um desenho da Disney, tornando-se um clássico, que é "Branca de Neve". Esse conto possui vários mitologemas, mas eu vou tratar de um em especial: a relação da madrasta com sua enteada.
   Branca de Neve é uma princesa órfã, que tem por madrasta uma feiticeira de grande beleza, dona de um espelho mágico que diz a ela se existe alguma mulher mais bela do que ela mesma. A resposta é sempre "não", o que significa que a mais bela é a madrasta.
   Ela nunca se ocupa de Branca de Neve, a menina não está entre seus interesses, por isso a pequena cresce e se desenvolve relativamente bem, tornando-se uma jovem de atributos físicos capazes de competir com os da madrasta. Aí tudo muda: no dia em que o espelho revela à feiticeira que sua enteada era mais bela, o mundo desaba, e começa um processo implacável de perseguição, que tem por objetivo a morte da princesa.
   Não há dúvida de que a rainha representa um aspecto do arquétipo materno. Seu lado devorador, perverso, a Mãe Má. Quantas vezes percebemos ser difícil para algumas pessoas verem seus "filhos" (filhos mesmo, ou subalternos, alunos, enfim, pessoas que "crescem" real ou simbolicamente diante de seus olhos, ou sob sua supervisão) tornando-se fortes ou belos ou inteligentes ou independentes o suficiente para ameaçarem o estado de coisas com que estão acostumados? Como parece ser difícil para certas pessoas perceberem que seus "filhos" foram além de onde eles mesmos pararam. Então, a saída para alguns é "matar", ou seja, tentar desqualificar, desencorajar, diminuir, enfim, qualquer medida que enfraqueça aquele que busca sua autonomia, seu lugar de adulto.
   A Rainha nos fala do quanto é difícil estar no lugar do antigo que precisa ceder espaço para o novo, e o quanto, por vezes, nos agarramos a posições que julgamos serem tão importantes que levam a querer possuir como troféu o coração de quem ousa viver a vida de uma forma que não foi a que para ele planejamos...



segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Terapia com Florais

Reconhecimento pela Organização Mundial de Saúde
Os florais são reconhecidos pela OMS conforme publicação na Select Individual Therapies, 1983 pelo Dr. H .A.Forbes: “Cada remédio floral trata uma determinada pessoa e uma condição particular. O uso de todos estes remédios (essências florais) está amplamente distribuído pelo mundo”.  (H. A. W. Forbes, Selected Individual Therapies; em Bannerman et al., Traditional Medicine and Health Care Coverage, World Health Organization – WHO, 1983).

O governo brasileiro reconhece a Terapia Floral como prática integrativa e complementar em saúde humana pela Comissão Nacional de Classificação sob nº 8690-9/01.



domingo, 25 de setembro de 2011

Psicologia e Música

Miedo

Lenine

Tienen miedo del amor y no saber amar
Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz
Tienen miedo de pedir y miedo de callar
Miedo que da miedo del miedo que da
Tienen miedo de subir y miedo de bajar
Tienen miedo de la noche y miedo del azul
Tienen miedo de escupir y miedo de aguantar
Miedo que da miedo del miedo que da
El miedo es una sombra que el temor no esquiva
El miedo es una trampa que atrapó al amor
El miedo es la palanca que apagó la vida
El miedo es una grieta que agrandó el dolor
Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá
Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá
O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar
Tienen miedo de reir y miedo de llorar
Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienen miedo de decir y miedo de escuchar
Miedo que da miedo del miedo que da
Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá
O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor
El miedo es una raya que separa el mundo
El miedo es una casa donde nadie va
El miedo es como un lazo que se apierta en nudo
El miedo es una fuerza que me impide andar
Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo
Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão
Medo de fechar a cara
Medo de encarar
Medo de calar a boca
Medo de escutar
Medo de passar a perna
Medo de cair
Medo de fazer de conta
Medo de dormir
Medo de se arrepender
Medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez
Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá
Medo... que dá medo do medo que dá

 
Composição: Pedro Guerra/Lenine/Robney Assis

    segunda-feira, 19 de setembro de 2011

    ESPAÇO DO POETA

    Por Vanessa Coutinho
     (para minha amiga Lorena)

    Carrego uma pedra desde que nasci.
    É minha companheira. Minha irmã.
    Cresceu comigo, como parte de meu corpo
    E eu sei que preciso deixá-la em alguma parte do caminho.
    Carrego uma pedra desde que nasci.
    Ela se arrasta por sobre minha sombra, quando minha sombra dança.
    Ela está em todos os sonhos e pesadelos,
    Em todos os cantos da casa escura.
    Preciso deixar de vê-la,
    Mas ela me segue como um cão.
    Carrego uma pedra desde que nasci
    E por vezes acho que ela é minha história, meus contos, meus poemas tortos e trôpegos passos.
    Preciso perdê-la.
    Carrego uma pedra desde que nasci,
    Mas hoje descobri que não é minha...

    domingo, 18 de setembro de 2011

    CORPOS

    Por Vanessa Coutinho

       Dia desses, durante um atendimento, ouvi uma mulher falar a respeito de como seu corpo havia mudado após o nascimento de seu filho. Subitamente me dei conta, eu, mãe de duas filhas, da dor e da delícia daquela verdade. Para a maioria das mulheres, as mudanças no corpo (não só no corpo, é claro...) decorrentes de uma ou mais gestações são irreversíveis. Passei a me perguntar em que momento isso se tornou um fardo...
       É tão natural que as marcas da gravidez permaneçam no corpo, e que uma mulher que seja mãe tenha formas diferenciadas de outra, que não tenha vivido aquela transformação... Mas, de alguma forma, não parece ser! Vivemos cercadas por fotos de celebridades que, semanas após o parto, aparecem de biquini, medidas idênticas às anteriores, e isso as torna exemplos a serem seguidos, uma meta a ser alcançada.
       A ditadura do corpo perfeito é uma ficção que nossa sociedade criou e agora vive tentando, desesperadamente, legitimar. Acreditamos que é isso que é o certo, o bom, a norma. Atrevo-me a duvidar disso. Duvidar de que os corpos tenham que voltar à sua antiga forma em menos de um mês, para que mães de bebês possam exibir suas barrigas retas como de adolescentes enquanto amamentam seus recém-nascidos.
       A sociedade da super-visão, em que todos os olhos estão em toda parte, ridiculariza atrizes e cantoras que ousam exibir sua celulite na praia. Mas, espera aí! As atrizes ganham para atuar, as cantoras para cantar. Em que contrato assinaram que deveriam se manter escondidas caso estivessem acima do peso? Estranho mundo este...
       Não defendo a idéia de que é bom deixar-se enfeiar, tornar-se descuidada. Mas sim a de que é possível celebrar o novo, o corpo que a maternidade nos dá, e sentir-se estimulada e fortalecida por isso. Quem passa pela experiência de ter filhos e não mudar o corpo são os homens, é parte da natureza deles. Pensemos nisso, ao menos como reflexão, pode valer a pena experimentar...

    

    terça-feira, 6 de setembro de 2011

    Luíz Horácio

    Em homenagem à minha filha Luísa...

    "Felicidade é coisa que cada um inventa a sua."

    Do livro "Nenhum Pássaro no Céu"

    
    

    terça-feira, 30 de agosto de 2011

    JAMES HOLLIS

    "E quantos relacionamentos são governados pelo princípio do amor, pela atenção à alteridade do outro? Quantos são sabotados pela reativação dos antigos imagos do "eu mesmo" e do outro? Quantos são debilitados pelo não engrandecimento e apoio mútuo de suas jornadas separadas, pela força do hábito, pelo medo da mudança, pela falta de permissão para se viver a própria jornada e pela recusa em aceitar as convocações para suas próprias responsabilidades?
    (...)
    O amor quer a independênmcia de ambos os lados, liberdade, não controle, não culpa, não coerção, não manipulação. Dependência não é amor; é dependência - uma revogação da responsabilidade essencial em crescer, ter plena responsabilidade por nossas vidas."

    Do livro "A Sombra Interior - por que pessoas boas fazem coisas ruins?" - Ed. Novo Século

    

    segunda-feira, 22 de agosto de 2011

    PROJEÇÃO, E UM POUCO DE MELANIE KLEIN


    




    Por Vanessa Coutinho

       Para Melanie Klein, o primeiro objeto externo de intenso amor e de intenso ódio, para o bebê, é sua mãe. A mãe a princípio é vista como um seio bom, quando alimenta, sacia e propicia agradáveis sensações sensoriais, ou como um seio mau, quando frustra. Posteriormente será vista como um ser integral, positivo ou negativo, não mais apenas um seio bom ou mau. E, desta forma, o objeto que desperta tanto amor, desperta também muito ódio, e consequentes fantasias agressivas-destrutivas na criança; fantasias que enchem-na de culpa, por ter odiado um objeto amado. Esta culpa produz sensações muito incômodas, e levará o indivíduo a tentar repará-la a partir de suas futuras relações, pelo resto de sua vida.
       Obviamente, muitas das vezes em que o bebê percebe sua mãe como um seio mau, ou uma pessoa má, a mãe não o está maltratando realmente; ele a está percebendo desta forma graças a agressividade original que temos dentro de nós. Aí está ocorrendo o mecanismo da projeção. É mais confortável percebermos a agressividade como vinda de fora e não de dentro de nós mesmos. A partir da projeção da agressividade, nos desfazemos dela, depositando-a em um objeto exterior, que passa a ser visto como ameaçador, o que aumenta ainda mais a possibilidade de descarregarmos sobre ele o resto de nossa agressividade.
       Mas não é apenas a mãe que ocupa este lugar de ambivalência. O pai, os irmãos e demais componentes da trama familiar primária também produzem, nesta criança, sensações semelhantes, de amor, ódio, inveja, ciúmes e rivalidade que não se resolvem, apenas se dissolvem, e serão levadas pelo resto da vida, fazendo com que as pessoas busquem reparar sua culpa por ter odiado pessoas amadas, e esta reparação se dará pelas teias de relações futuras com amigos, amores, professores, filhos e até consigo mesmas.
       De acordo com Melanie Klein, todas as relações às quais nos entregaremos no decorrer da vida estarão marcadas por estas relações primitivas, no sentido de tentarmos reparar o mal que acreditamos ter feito através das fantasias destrutivas. Assim, ao escolher uma parceira, por exemplo, um homem pode acreditar que ela nada tem a ver com sua mãe, mas talvez haja alguma significativa sutileza, como o modo de olhar. Ou talvez realmente não haja nada, e ela seja uma pessoa com características exatamente opostas, o que continua sendo fortemente influenciado pela figura da mãe.
       São importantes para esta reparação não apenas figuras que possamos amar, para nos assegurarmos que o amor de fato existe (e, por extensão, pais que nos amem), mas também figuras que possamos odiar e desprezar, sem a culpa que experimentamos quando estes sentimentos eram focados nas figuras  de referência. É mais aceitável odiarmos pessoas que, em nossa opinião, realmente merecem nosso ódio, e podem ser mantidas em segurança bem distantes de nosso círculo afetivo!

    

    PARA ALEXANDRE ARARIPE, RITA GREGO E DANIEL ANSOR

    DESEJOS

    Carlos Drummond de Andrade

    Desejo a você...
    Fruto do mato
    Cheiro de jardim
    Namoro no portão
    Domingo sem chuva
    Segunda sem mau humor
    Sábado com seu amor
    Filme de Carlitos
    Chope com os amigos
    Crônica de Rubem Braga
    Viver sem inimigos
    Filme antigo na TV
    Ter uma pessoa especial
    E que ela goste de você
    Música de Tom com letra de Chico
    Frango caipira em pensão do interior
    Ouvir uma palavra amável
    Ter uma surpresa agradável
    Ver a banda passar
    Noite de lua cheia
    Rever uma velha amizade
    Ter fé em Deus
    Não ter que ouvir a palavra NÃO, nem NUNCA, nem JAMAIS, nem ADEUS
    Rir como criança
    Ouvir canto de passarinho
    Sarar de resfriado
    Escrever um poema de amor
    Que nunca será rasgado
    Formar um par ideal
    Tomar banho de cachoeira
    Pegar um bronzeado legal
    Aprender uma nova canção
    Esperar alguém na estação
    Queijo com goiabada
    Por do sol na roça
    Uma festa
    Um violão
    Uma seresta
    Recordar um amor antigo
    Ter um ombro sempre amigo
    Bater palmas de alegria
    Uma tarde amena
    Calçar um velho chinelo
    Sentar numa velha poltrona
    Tocar violão para alguém
    Ouvir a chuva no telhado
    Vinho branco
    Bolero de Ravel
    E muito carinho meu.

    sexta-feira, 19 de agosto de 2011

    ESPAÇO DO POETA

    Lúcia, como eu disse, este poema veio parar no blog.
    Bj.


                                            

           

    Nem sempre
    (Antonio Roberto Fernandes)

    Nem sempre o meio é no centro
    Nem o lado na beirada
    E a dor que sinto por dentro
    Pode ser até por nada
    Nem sempre aquilo que é lindo
    Merece maior valor
    Quem anda sempre sorrindo
    Pode esconder uma dor.

    Nem sempre ganha a corrida
    O corredor que é mais forte
    Nem toda existência é vida
    Nem falta de vida é morte
    Quem sempre chora e reclama
    Nem sempre é mais infeliz
    Nem sempre quem diz que ama
    Sabe a força do que diz.

    Quem fala que sabe tudo
    Muitas vezes sabe nada
    Nem sempre o bom conteúdo
    Tem capa mais enfeitada
    Há quem seja mais sozinho
    No meio da multidão
    Pode um grito ser carinho
    E um beijo ser traição.

    Nem toda estrada é passagem
    Nem todo verso é poesia
    Nem sempre toda paisagem
    É como fotografia
    Quem canta nem sempre espanta
    O mal que a vida nos faz
    Quanto mais minha alma canta
    Cada dia sofre mais.

    Nem todo que odeia fere
    Nem quem ama vive ao lado
    Nem sempre quem mais confere
    Percebe que há algo errado
    Nem tudo que queima é fogo
    Nem sempre a morte é o pior
    Nem sempre quem ganha o jogo
    Pareceu jogar melhor.

    Nem todo vento refresca
    Nem toda luz tem calor
    Nem sempre aquele que pesca
    Tem jeito de pescador
    Nem sempre o meio é no centro
    Nem o lado na beirada
    E a dor que sinto por dentro
    Pode ser até...por nada!"

                                                              

    sexta-feira, 12 de agosto de 2011

    sexta-feira, 5 de agosto de 2011

    FRASES

    "Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas..."

    Luís Fernando Veríssimo

                                                        

    quarta-feira, 3 de agosto de 2011

    EMYGDIO DE BARROS

                                                                           

    FRASES

    ''Não se pode mais nem matar a saudade de um filho..."

    Frase dita por homem que teve parte da orelha decepada por homofóbicos, após agressão física sofrida quando ele e seu filho, que se abraçavam, foram confundidos com homossexuais...

    segunda-feira, 1 de agosto de 2011

    A FERIDA DE QUÍRON

    Por Vanessa Coutinho

    
              Ana Clara (nome fictício) procurou-me a primeira vez, e tinha muito a dizer.  Como quase todos os que procuram o processo terapêutico, falou, falou, falou, e eu percebia que algo ainda havia por falar. Marcamos o segundo encontro e ela não compareceu. Entrei em contato e soube, por sua mãe, que ela havia se submetido a uma cirurgia para extirpar um tumor. Isso não havia sido dito, mas, de alguma forma, estava posto, desde o primeiro contato, como o segredo não revelado.
              Mantive-me aguardando e, durante mais ou menos dois anos, Ana Clara de vez em quando me ligava. Marcava uma consulta e não ia. Ou chegava tão cedo que nem eu mesma ainda havia chegado, então acabava indo embora. Ou tão atrasada que inviabilizava o atendimento. Às vezes deixava bilhetes por baixo da porta. E sumia por meses. Um dia ligava novamente. Marcava outra consulta, consulta que ela sabia precisar, mas não sabia se suportaria.
              Em uma dessas vezes senti raiva. Marquei um horário em que normalmente, não estaria no consultório. Ao chegar lá, descobri pelo porteiro do prédio que  “uma senhora que havia vindo me procurar não quisera esperar e fora embora”. Jurei nunca mais marcar nenhum horário para Ana Clara. Vivi toda raiva e frustração. Quinze dias depois, ela ligou. E eu marquei a sessão. Era um horário difícil, e eu acreditei que talvez não conseguisse chegar. Um colega chegou a comentar que, se não pudesse ir, não fosse, desmarcasse. Mas eu não faria isso. Mesmo que ela não estivesse lá, eu estaria, eu precisava estar. Quando estava a caminho, recebi um telefonema. Reconheci o número, e imaginei que Ana Clara me diria que não poderia comparecer. Surpresa, a ouvi do outro lado avisando que também estava a caminho. Quando cheguei, ela já estava a minha espera. Ao sair do consultório sabia que não havíamos começado ali.  Esses dois anos de (des)encontros que ambas fomos capazes de suportar, construir e ressignificar, foram fundamentais, e fazem parte do processo terapêutico que construímos.
              É um pouco sobre isso que fala este texto: da ferida de Quíron, que me fez capaz de, a partir da minha dor, entender a dor do outro, e me capacitou a, pelo menos, desejar ser terapeuta.


                                                             


    quinta-feira, 28 de julho de 2011

    Marina Colassanti

    Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

    Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

    Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

    Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos  do algodão  mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

    Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

    Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

    Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

    Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

    Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

    Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

    Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

    Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

    E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

    — Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

    Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.

    — Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

    Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

    Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.

    — É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

    Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

    E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

    Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
    Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins.  Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
    A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta.  Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
    Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

    segunda-feira, 25 de julho de 2011

    Arthur Bispo do Rosário

                                                                    

    JONAS

    Por Vanessa Coutinho

                                                                    




    A HISTÓRIA DO PROFETA JONAS

                Deus disse ao profeta Jonas que fosse pregar em Nínive, cidade conhecida por sua maldade. Jonas achou que não deveria ir, e embarcou em um navio que zarpava para Társis, bem longe de onde Deus lhe mandara ir.
                Mas Deus lançou sobre o mar um vendaval tão intenso, que o navio estava a ponto de naufragar. Os marinheiros, em desespero, oravam por suas vidas, cada qual segundo sua crença. Jonas, enquanto isso, dormia profundamente no porão. O comandante o encontrou, e lhe disse que também orasse.
                Os homens lançaram a sorte, a fim de saber quem era o responsável pela situação em que se encontravam. Jonas foi apontado e questionado. Cientes de tudo, os marinheiros perguntaram a Jonas o que fazer, e ele disse que deveriam jogá-lo ao mar, o que foi feito.
                Após Jonas ser lançado, o mar se acalmou. E Deus enviou um grande peixe, que engoliu Jonas. Jonas permaneceu nas entranhas do peixe por três dias e três noites. E orou.
                Deus ordenou ao peixe que vomitasse Jonas sobre a terra firme.
                Mais uma vez Deus disse a Jonas que fosse pregar em Nínive, que agora estava bem mais perto do que no começo de sua jornada. E ele foi, e pregou dizendo que, se seus habitantes não cressem em Deus, a cidade sucumbiria em quarenta dias.
                Os homens creram, e jejuaram, inclusive o rei. E Deus não destruiu a cidade.

    relação entre o livro de Jonas e os conceitos de “ego” e “self”

                No livro de Jonas, podemos identificar duas figuras principais: o profeta e Deus.
                Podemos identificar o profeta Jonas com o ego, e Deus com o self.
                Deus-self, sabe e indica o caminho que o Jonas-ego deveria seguir: na história em questão, pregar em Nínive. O ego, influenciado por fatores diversos, resolve afastar-se do que seria o seu “mito pessoal”.
                Enquanto dorme, uma tempestade ameaça o navio em que se encontra, mas ele não vê. Por vezes, o adoecimento psíquico apresenta os primeiros sinais, mas o sistema consciente nega, “adormece”, despreza. Então, o self não tem outra alternativa senão apresentar-se em sua plenitude. É a epifania de Deus, e Jonas é engolido por um grande peixe, e passa em seu ventre, que representa o contato com o inconsciente, três dias e três noites. Jonas, como todo herói, vai às profundezas em vida (katábasis) e, após perceber que apenas aceitando ser o que é, poderá retornar seu estado de saúde, ora, entra em relação com Deus, e é vomitado “de volta à vida” (anábasis).


    terça-feira, 19 de julho de 2011

    PARA LER E PENSAR

    Lúcia, aproveitei a frase para o blog. Impossível não fazê-lo...
    Bj.

    "O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons."
    Martin Luther King

                                                        

    segunda-feira, 18 de julho de 2011

    PARA LER E PENSAR

    "Não somos ricos por causa das coisas que possuímos, mas pelo que podemos fazer sem possuí-las"
    Kant


                                                      

    segunda-feira, 11 de julho de 2011

    C. G. JUNG

    "Ainda que ocasionalmente os meus pacientes produzam obras de grande beleza, boas para serem expostas em mostras de "arte" moderna, eu as considero totalmente desprovidas de valor artístico, quando medidas pelos padrões da arte verdadeira. É essencial até que não tenham valor, pois, do contrário, meus pacientes poderiam considerar-se artistas, e isso seria fugir totalmente à finalidade do exercício. Não é arte, nem deve sê-lo. É bem mais que isso; é algo bem diverso do que simplesmente arte; trata-se da eficácia da vida sobre o próprio paciente. Aquilo que do ponto de vista social não é valorizado passa a ocupar aqui o primeiro plano, isto é, o sentido da vida individual, que faz com que o paciente se esforce por traduzir o indizível em formas visíveis. Desajeitadamente. Como uma criança."
    (A Prática da Psicoterapia)

                                                                   

    quinta-feira, 2 de junho de 2011

    GENTE QUE TEM O QUE DIZER

    "O saber se aprende com os mestres. A sabedoria, só com o corriqueiro da vida".
    Cora Coralina

                                                        

    sexta-feira, 27 de maio de 2011

    PEQUENOS CONTOS

    Por Vanessa Coutinho
    O menino queria plantar um pé de alegria, para que sua mãe pudesse, um dia, colher um fruto, mesmo que pequeno. Ele sonhava em poder encontrar algumas sementes e plantá-las. Depois regar e ver crescer a árvore mágica.
    O menino sempre via sua mãe tão triste, jamais a vira sorrir. E ele imaginava que talvez fosse o culpado por aquela tristeza pesada que a mulher carregava para onde quer que fosse.
    Um dia o menino encontrou por acaso umas sementes de alegria jogadas no chão da rua. Eram poucas, ele sabia que precisaria cuidar com muito afinco para que brotassem. Mesmo assim, valia a pena tentar.
    As sementes brotaram numa velha lata de leite condensado, seu tesouro maior. E, para seu espanto, deram frutos rápido, assim que os galhos se estenderam.
    Eram, realmente, frutos pequenos, quase do tamanho de uma ervilha. Mas ele colheu todos com mãos cuidadosas e levou-as para que a mãe pudesse provar.
    -O que é isso? - ela perguntou
    -Não sei. Prova. O gosto é bom.
    A mulher botou as frutas na boca mais por preguiça do que por vontade. E, pela primeira vez na vida do menino, ele a viu sorrir. Bem de leve, bem de canto. Mas ela sorriu.
    Então, pegou as poucas roupas que tinha, juntou com as do menino, que também não eram muitas. Estendeu a ele a mão áspera e abriu a porta para que, juntos, fossem para longe dali.

    quinta-feira, 26 de maio de 2011

    C.G.JUNG

                    O MITO: PIGMALIÃO
    Por Vanessa Coutinho

              Pigmalião via tantos defeitos nas mulheres que, por causa disso, acabou por viver solitário. Como era exímio escultor, executou uma belíssima estátua de marfim, tão perfeita que parecia uma jovem de carne e osso.Pigmalião chamou-a Galatéia, e por ela apaixonou-se perdidamente. Acariciava-a e dava-lhe presentes, como se fosse uma amante de verdade. Pigmalião vestiu Galatéia, ornou-a com jóias e deitou-a no leito como sua mulher.

              Algum tempo após, o escultor compareceu ao festival dedicado à Vênus, onde cumpriu suas obrigações para com a deusa. Depois, diante do altar, quis rogar para que pudesse, de fato, casar-se com Galatéia, mas constrangeu-se de fazer tal pedido. Vênus compreendeu o desejo que Pigmalião não se atreveu a formular, e fez com que a chama do altar se erguesse por três vezes. Ao chegar a casa, o homem se debruçou sobre a amada para beijar-lhe a boca. Percebeu os lábios quentes. Beijou-a novamente e envolveu-a nos braços. A rigidez do marfim transformara-se em carne macia. Atônito e feliz, com medo de que estivesse enganado, repetiu o gesto por muitas vezes, até certificar-se de que era mesmo um corpo vivo que tinha próximo ao seu. Ele agradeceu à Vênus, e a jovem abriu os olhos, fixando seu amante. A deusa abençoou o casamento de Pigmalião e Galatéia, do qual nasceu Pafos.

                     INTERPRETAÇÃO DO MITO


              Podemos considerar Pigmalião como símbolo do homem que renega veementemente seus conteúdos femininos, sua anima. Assim, Galatéia representa esta anima, enrijecida, sem vida, sem mobilidade. Pigmalião vive solitário, sua vida não está completa, não gera frutos, pois uma parte de seu self é negada, abominada. Sua relação com a anima é negativa. Antes de poder viver satisfatoriamente um casamento real, é preciso que o homem possa se relacionar com sua anima e a mulher com seu animus.

              Ao mesmo tempo que nega o valor das mulheres, Pigmalião intui que necessita de sua porção do feminino para ser uma pessoa mais plena, e começa, a princípio timidamente, a “cortejar” Galatéia, aproximar-se dela, oferecer-lhe presentes, ou seja, relacionar-se com a anima que, cada vez menos desprezada, pode começar a se manifestar positivamente na vida do homem.

              Vênus, divindade que representa de forma muito intensa as qualidades do feminino, promove esse “casamento interno” com a anima, e desta união nasce uma criança, símbolo da plenitude da relação, antes estéril e problemática.

              Agora, Galatéia é uma mulher real, graças à “entrega” de Pigmalião às qualidades e características do feminino, representadas pela deusa. Após vivenciar a importância da relação positiva com sua anima, Pigmalião está apto a um “casamento” real, com uma mulher de carne e osso.

                                                         


    segunda-feira, 23 de maio de 2011

    PARA O DR. TIJOLINHO, DENTISTA DA ALEGRIA

    "Pedras no caminho?
    Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

    Fernando Pessoa

    PARA LER E PENSAR

    "Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
    E que posso evitar que ela vá à falência.
    Ser feliz é reconhecer que vale à pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
    Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
    É ATRAVESSAR DESERTOS FORA DE SI, MAS SER CAPAZ DE ENCONTRAR UM OÁSIS NO RECÔNDITO DA SUA ALMA.
    É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
    Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
    É saber falar de si mesmo.
    É ter coregem para ouvir um 'não'.
    É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta."

    Fernando Pessoa

    Ao ler este texto não pude deixar de fazer uma relação com o processo terapêutico.
    Se é possível viver melhor, porquê não tentar? Por quê não se dar uma chance de encontrar um oásis no recôndito da alma?

    domingo, 24 de abril de 2011

    Psicologia e Música

    Se Puder Sem Medo

    Composição: Oswaldo Montenegro

    Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
    Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
    Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
    Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo

    Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
    O lençol amarrotado mesmo que vazio
    Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
    Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio
    Deixa o coração falar o que eu calei um dia

    Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
    Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
    Deixa tudo como está e se puder, sem medo
    Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
    Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
    Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
    Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta
    Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso
    Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
    Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
    Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
    Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo

    Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
    Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
    Se o adeus demora a dor no coração se expande
    Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
    Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
    Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
    Deixa eu por à prova toda minha resistência
    Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
    Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
    Deixa pendurada a calça de brim desbotado

    Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
    Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa

    Deixa um último recado na casa vizinha
    Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
    Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
    Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
    Deixa o que você calou e eu tanto precisava
    Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
    Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava

    segunda-feira, 14 de março de 2011

    GENTE QUE TEM O QUE DIZER

    "Cultura é tudo aquilo de que a gente se lembra após ter esquecido o que leu. Revela-se no modo de falar, de sentar-se, de comer, de ler um texto, de olhar o mundo. É uma atitude que se aperfeiçoa no contato com a arte. Cultura não é aquilo que entra pelos olhos, é o que modifica seu olhar."
    José Paulo Paes

    PRECONCEITO

    Ontem, no programa " Esquenta", comandado por Regina Casé, durante uma entrevista com Marina Silva, a apresentadora resolveu chamar o ator Douglas Silva, da dupla que interpretou Acerola e Laranjinha em "Cidade dos Homens". Então, Regina pediu que ele revelasse ao público qual o som que ele mais vezes ouviu na vida. Sua resposta, um tapa na cara da sociedade hipócrita em que estamos inseridos: quando ia e voltava da escola, e precisava atravessar a rua entre os carros, ia ouvindo, tal uma locomotiva, as portas se travando "tlec-tlec-tlec"...
    No momento em que um dos filmes mais vistos do cinema é "Bruna Surfistinha", baseado no livro em que uma ex-garota de programa conta sua história (e é interpretada por uma global, atualmente na novela das nove da emissora), relembro um antigo comercial da TV Brasil, que perguntava: "onde você guarda o seu preconceito?"
    Hein?

    terça-feira, 8 de março de 2011

    PSICOLOGIA E CINEMA

    No superpremiado longa de animação "A viagem de Chihiro" (Hayao Miyazaki - 2003), a feiticeira Io Baba domina os seres "roubando" seus nomes, isto é, rebatizando-os e fazendo-os esquecer seus nomes verdadeiros. Com isso, esquecem seu passado, seus desejos, seus anseios, suas determinações... Fiquei refletindo a este respeito. Quantos de nós "esquecemos nossos nomes", isto é, depois de um tempo, dominados pelo dia-a-dia alienante, já não sabemos mais quem somos, ou melhor, quem um dia fomos, e deveríamos voltar a ser. Presos sob o peso de personas, corremos o risco de esquecer nossos objetivos, talentos e sonhos. É preciso fazer como a pequena Chihiro, que, auxiliada por seu amigo Haku, nunca esqueceu seu verdadeiro nome...

    segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

    EU LI...

    Na revista Crescer de dezembro de 2010, na coluna do Marcelo Tas, um comentário sobre os livros da série "Diário de um banana":
     "Todos nós, adultos e crianças, gastamos muito tempo da vida tentando esconder as coisas feias que temos dentro de nós. Quando assumimos a figura do "banana", em vez de empurrá-las para debaixo do tapete a trazemos para o fogo e a luz implacáveis do humor. Libere o "banana"dentro de você. Libere o seu filho da infância onde você o congelou. Viva os "bananas"!

    sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

    GENTE QUE TEM O QUE DIZER

    O MUNDO

    eDUARDO gALEANO

      
       Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus.

       Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.

       - O mundo é isso – revelou – um montão de gente, um mar de fogueirinhas.

       Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.