segunda-feira, 1 de abril de 2013

Psicologia e Cinema

Por Vanessa Coutinho




   Reza a lenda que Carlos Drummond de Andrade tirou zero em uma prova sobre sua obra. Suas interpretações foram todas consideradas incorretas. Em geral, ao interpretarmos algo, falamos de nós, muito mais do que do autor.
   Ao assistir o filme "As aventuras de Pi", muitas coisas nos chamam a atenção. Como todos sabem, esse filme conta a história de um jovem náufrago que fica à deriva num bote salva-vidas na companhia de um tigre de bengala.
   Há uma cena em que vemos Pi lutando contra a tempestade que levou o navio em que estava ao fundo do oceano. Em seu bote, uma zebra de pata quebrada, uma hiena, um orangotango e, claro, o tigre. A hiena mata zebra e o orangotango e, finalmente, é morta pelo tigre. E assim, Pi segue com o felino infinitos dias através do mar.
   No fim do filme, Pi declara que a presença do tigre o salvou, o ajudou a manter-se vivo em seus dias de profundo desespero. Afinal, aquele não era qualquer tigre, mas sim, o mais poderoso dos animais do antigo zoológico de seu pai, morto no naufrágio.
   Ouvimos então, uma segunda versão dos fatos, onde é possível compreender que a zebra representaria um simpático marinheiro budista; o orangotango, a mãe de Pi; a hiena, o cozinheiro asqueroso e amoral, e, o tigre, o próprio Pi. Assim, quando ele narra suas aventuras no bote, na verdade estaria sozinho, seu aspecto humano-racional aparecendo como ele mesmo, e seu instinto surgindo personificado no tigre, que o fez resistir por tanto tempo sem sucumbir. Pi e o tigre, dois aspectos do mesmo ser.
   Ao chegar à costa do México, o tigre desaparece sem deixar rastros. Prestes a ser acolhido e salvo, Pi podia reconstituir-se numa só imagem. Seu tigre interior já havia cumprido sua função...
 
 

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